Família de homem morto pela Guarda Municipal de SL durante surto nega que vítima tinha faca nas mãos: 'era uma tesoura pequenininha'
A vítima, que era paciente psiquiátrico, foi baleada na tarde dessa segunda-feira (21), na casa onde morava com a mãe, na rua Alcides Pereira, no bairro do C...
A vítima, que era paciente psiquiátrico, foi baleada na tarde dessa segunda-feira (21), na casa onde morava com a mãe, na rua Alcides Pereira, no bairro do Caratatiua, em São Luís. Homem em surto psicótico morre após ser baleado pela Guarda Municipal de São Luís Reprodução/TV Mirante A família de Kylian Patrick Nascimento Costa, de 29 anos, que foi morto baleado pela Guarda Municipal de São Luís, durante um surto psicótico, afirma que a vítima estava usando uma tesoura de cortar unha no momento em que foi baleada e não uma faca, como afirmou a Secretaria Municipal de Segurança com Cidadania (Semusc). A vítima, que era paciente psiquiátrico, foi baleada na tarde dessa segunda-feira (21), na casa onde morava com a mãe, na rua Alcides Pereira, no bairro do Caratatiua, na região da Alemanha, na capital maranhense. Após o caso, a Semusc emitiu uma nota afirmando que familiares da vítima e a equipe de uma clínica psiquiátrica buscaram ajuda da Guarda Municipal de São Luís, para conter o homem que estava em surto psicótico. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Maranhão no WhatsApp A Semusc afirmou que, chegando ao local, os guardas municipais, com os profissionais da clínica, iniciaram um diálogo com o homem e, durante a negociação, o paciente psiquiátrico, portando uma faca, partiu para cima da guarnição, que desferiu disparos de borracha para contê-lo. Mesmo com os tiros de borracha, o homem continuou tentando investir contra a vida dos guardas municipais que, diante da iminente agressão, precisaram utilizar arma de fogo. Já a família de Kylian, em entrevista à TV Mirante, desmentiu a versão da Guarda Municipal, afirmando que a vítima segurava uma tesoura de manicure em uma das mãos. “Kylian veio lá de dentro com uma pedra e uma tesoura pequena, que ele tava, uma tesoura bem pequenininha, que quase não dava pra ver na mão dele, mas ele tava com essa tesoura desde domingo. E aí, quando eu já vi, já foi o guarda municipal, que tava fardado, já carregando a escopeta que tava com a munição de borracha e aí… Quando eu já vi o terceiro tiro, o terceiro tiro já foi aqui no meio (na região do tórax), e quando eu vi já era sangue”, relatou Adriana Milena Nascimento, tia da vítima. Nesta terça-feira (22), a Semusc emitiu outra nota reforçando que os guardas municipais foram ameaçados pelo homem com objeto perfurante, sendo aplicado primeiramente o uso de arma não letal. Mas, diante da continuidade das ameaças e iminente risco à vida dos guardas na operação e demais pessoas no local, foi necessário o uso de força maior para contenção do homem. A Semusc disse, ainda, que os guardas municipais recebem o porte de arma de fogo após treinamento no curso de armamento e tiro e com autorização da polícia federal. Além disso, os guardas passam, anualmente, por uma avaliação de armamento e tiro (veja, ao final na matéria, a nota completa). De acordo com a tia de Kylian, o homem, que tinha esquizofrenia, já havia sido internado antes por apresentar alteração de comportamento. E, nos últimos dias, com ele mais agitado, a família decidiu contratar uma clínica particular para cuidar da saúde do paciente. Segundo Adriana, a família não foi avisada e nem autorizou a intervenção de agentes da Guarda Municipal no processo. “O pessoal da Estância já chegou com os guardas municipais, já estavam tudo lá, eram dois carros. E aí, quando eles disseram que iam invadir (a casa onde a vítima estava) e eles deram um murro no portão, e aí, quando eles deram o murro no portão, já foram com spray de pimenta jogando dentro da casa. Eu não sabia que eles eram guarda municipal, eu pensava que eles eram da Estância, porque eles estavam sem farda”, afirmou Adriana Nascimento. Um funcionário da clínica Estância Bela Vista, em São José de Ribamar, na Grande São Luís, que foi chamada pela família para internar Kylian Patrick, disse para a TV Mirante que a clínica fez todos os procedimentos, mas diante da ameaça do paciente, que segurava um objeto cortante em uma das mãos, precisou pedir apoio da Polícia Militar, mas não foi atendida. Por meio de nota, divulgada nesta terça-feira (22), a Estância Bela Vista afirmou que, “foi requerida a presença imediata do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Guarda Municipal, com o único intuito de garantir a segurança de todos os envolvidos, já que o paciente se encontrava em surto e portava objetos que representavam risco iminente para si e para terceiros”. A clínica disse, ainda, que infelizmente o caso terminou com a morte do paciente, após a intervenção da Guarda Municipal, em circunstâncias que ainda estão em processo de apuração pela Polícia Civil (veja, ao fim da matéria, a nota completa da clínica Estância Bela Vista). Polícia começa a ouvir testemunhas e agentes sobre morte de paciente psiquiátrico A morte de Kylian Patrick Nascimento está sendo investigada pela Delegacia de Homicídios de São Luís, onde já foram ouvidos funcionários da clínica, a equipe da Guarda Municipal, a família da vítima, além de testemunhas. Um dos guardas municipais, apontados como suspeito de ter atirado na vítima, já se apresentou à polícia e vai responder ao processo em liberdade. Já as armas usadas na ação foram apreendidas e irão passar por perícia. Segundo a Polícia Civil do Maranhão, a princípio se constatou que houve o uso progressivo da força por parte da Guarda Municipal. “As medidas que foram tomadas, pelos guardas municipais no local, elas seguiram um padrão que nós chamamos, que é o uso progressivo da força. Houve primeiro uma verbalização, posteriormente, essa verbalização não surtindo efeito, se fez uso de armamento não letal, foi o spray de pimenta que, ainda assim, não conseguiu se acalmar os ânimos da vítima. E aí se evoluiu para o uso de instrumento também não letal, que é o famoso bala de borracha, que ainda assim, com o uso desse armamento, essa atitude agressiva dessa vítima ela não cessou. E o que culminou, que com uma investida dele pra um dos guardas municipais, mesmo após o uso progressivo da força, chegou ao ápice dela, que seria o armamento letal, onde foi efetuado um único disparo de arma de fogo”, explicou o delgado Clarismar de Oliveira, que investiga o caso. Diretor-geral do CAPS AD fala sobre atendimento a pacientes em surto O que diz a Semusc A Secretaria Municipal de Segurança com Cidadania (Semusc) informa que a Guarda Municipal atendeu a ocorrência para contenção de um homem em surto, os guardas foram ameaçados pelo homem com objeto perfurante, sendo aplicado primeiramente o uso de arma não letal, com balas de borracha para imobilização do mesmo. Diante da continuidade das ameaças e iminente risco à vida dos guardas na operação e demais pessoas no local, foi necessário o uso de força maior para contenção do homem. A Semusc comunica que os guardas municipais recebem o porte de arma de fogo após treinamento no Curso de Armamento e Tiro (CAT), amparados pela Lei 13.022/2014, e com autorização da Polícia Federal. E que, além disso, os guardas municipais passam, anualmente, por uma avaliação de armamento e tiro denominada de Estágio de Qualificação Profissional (EQP), que também é fiscalizado pela Polícia Federal. Por fim, o porte de arma para os guardas está previsto no Estatuto do Desarmamento. O que diz a Clínica Estância Bela Vista A Clínica Estância Bela Vista vem por meio de nota, esclarecer o ocorrido na manhã do dia 21 de outubro, no Bairro Caratatiua - São Luís – MA, envolvendo o Sr. Kilian Patric Nascimento Costa, de 29 anos. Após solicitação de apoio feita por familiares, a equipe técnica da Estância Bela Vista se dirigiu ao local do fato, com o objetivo de oferecer o suporte necessário ao Sr.Kilian, diante do complexo quadro clínico apresentado e da gravidade do comportamento observado no momento. Nesse contexto, foi requerida a presença imediata do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Guarda Municipal, com o único intuito de garantir a segurança de todos os envolvidos, já que o paciente se encontrava em surto e portava objetos que representavam risco iminente para si e para terceiros. Infelizmente, o desfecho culminou com a morte do Sr. Kilian, após a intervenção da Guarda Municipal, em circunstâncias que ainda estão em processo de apuração pela Polícia Civil. A Clínica Estância Bela Vista lamenta profundamente o ocorrido e manifesta seus sentimentos à família enlutada, reafirmando nosso compromisso em prestar todo o apoio necessário aos familiares neste momento tão difícil. Por fim, registramos que a Clínica Estância Bela Vista seguiu todos os protocolos técnicos disponíveis, não tendo qualquer conduta fora dos mais elevados padrões de qualidade e assistência. O que diz o governo do Maranhão Por meio de nota, a governo do estado informou que o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) foi acionado por um enfermeiro da clínica Estância Bela Vista, relatando o quadro de um paciente em surto psicótico e muito agressivo. O governo afirmou que, em situações envolvendo pacientes psiquiátricos, o protocolo institucional vigente estabelece que o atendimento do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar a esses casos se dará somente após o acionamento feito pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu, a quem compete o atendimento inicial. E que essa regra garante uma abordagem segura, uma vez que o Samu possui profissionais treinados para situações médicas e psiquiátricas. Ainda segundo o governo, a atuação dos bombeiros e da PM se dará como apoio, após a solicitação direta do Samu, que avalia e coordena o atendimento de acordo com o quadro clínico do paciente.